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A Feira de Ciências do colégio Olimpus no ano de 2005 foi um evento fascinante. Não por causa dos seus esforçados alunos que fizeram pesquisas durante meses só para poder apresentar algo decente a quem fosse assistí-los. Não, aquilo era muito chato, credo. A atração principal do dia, por sua vez, foi um aluno. A única pessoa naquela convenção repleta de teorias científicas e explicações racionais que agia instintivamente, irracionalmente. Agia por amor. E, vejam só que surpresa, esse alguém era eu.
A idéia dos coordenadores para a Feira de Ciências era simples: Dividir cada grupo em dois subgrupos, cada um se apresentando durante metade do tempo de exposição. Assim, todos teriam tempo para visitar as outras barraquinhas, ouvir atentamente ao que eles dizem e absorver mais um pouco de cultura. Todo mundo sabia que era porque não tinha espaço suficiente pra agrupar todos de uma vez só, mas vamos dizer que seja isso. O fato é que eu e as pessoas do meu subgrupo já tínhamos terminado nosso turno, o que nos deixava absolutamente livres para fazer o que quiser. Saímos de nossa barraquinha extremamente felizes, até nos lembrarmos de algo.
Era tudo EXTREMAMENTE entendiante.
Nesse contexto, éramos quatro pessoas.
-Nohan: Um rapaz jovem, meio nerd e apaixonado que coincidentemente é o protagonista desta história, e mais coincidentemente ainda sou eu.
-Luana: A garota por quem eu estava apaixonado. Descendente de japoneses e cheia de fatos curiosos (que ainda não terminaram de ser apresentados, fiquem ligadinhos), usava um laço na cabeça extremamente bonitinho no dia. Fato curioso: ela provavelmente me achava um babaca.
-Clara: Melhor amiga de Luana, mais grudada nela do que chiclete em sapato caro. Até então, eu a achava uma vadia cuja principal fonte de prazer era atrapalhar minha vida.
-Marcos: Meu melhor amigo e companheiro de aventuras da época. Na verdade ele é irrelevante nesta história, ao contrário do pastel de queijo que ele me pagou. Aparecerá de novo posteriormente, com papéis mais importantes.
E lá estávamos nós, entediados. Luana e Clara conversando, Marcos fazendo nada e eu comendo pastel. Bem, na verdade comer pastel era somente um disfarce. O que eu tramava secretamente na minha mente era um plano para me reconciliar com a Luana. Lá estava ela, a duas pessoas de distância, e eu sequer tinha uma frase legal pra começar uma conversa. Obviamente, a idéia de que eu estava comendo um delicioso pastel de queijo e que poderia oferecê-lo para ela não me veio a cabeça. Mas veio na cabeça dela, então deu no mesmo.
-Nohan?
-AICARALHO oi?
-Me dá um pedaço? Tô meio com fome.
Depois de eu a dar instintivamente todo o resto do meu pastel, parece que conversar ficou mais fácil. A parte mais difícil tinha sido dar o primeiro passo e dizer algo (passo que não foi dado por mim, mas na minha cabeça era a mesma coisa). Logo estávamos nós quatro conversando alegremente, e eu me saindo bem na missão de não parecer um completo idiota. Minha amada, então, disse uma das coisas mais impressionantemente loucas que já saíram de sua linda boca.
Fato 04: Luana tinha uma mente absurdamente fértil, beirando a insanidade.
Não lembro sobre o que conversávamos na hora, mas a idéia de amarrar alguém com fita adesiva com certeza não fazia parte do tópico principal. Naturalmente, então, todos pararam imediatamente de conversar uns com os outros e passaram a observá-la, levemente assustados.
-É sério! Essa Feira tá chata demais, precisa de alguma coisa pra animar o lugar LOL
A idéia de finalmente haver uma Feira Cultural com uma certa agitação era de fato tentadora. Todos os alunos daquele colégio estavam cheios de ter que apresentar seus trabalhos todos os anos lutando contra o sono e a vontade de bater nos seus espectadores que não paravam de fazer perguntas, fingindo estar interessados. Poderíamos ser heróis! Nos tornaríamos aqueles que salvaram a Feira de Ciências de 2005! Logo a idéia tornou-se um objetivo a ser cumprido a qualquer custo. Era só encontrar alguém babaca o suficiente pra aceitar ser amarrado em fita adesiva durante um tempo indeterminado.
-Que tal o Cláudio?
-Não, acho que ele não vai querer.
-A Ramona?
-Não.
-O diretor?
-Ninguém quer ser expulso aqui, então não.
-Então que tal... - e senti um olhar extremamente hostil na minha direção, com um sentimento quase fatal.
-Então, Nohan, será que você faz isso pela gente?
Era a Clara, a safada. Dava pra sentir aquela intenção maliciosa e o veneno saindo pela boca dela. Eu estava prestes a começar a protestar, mas no momento surgiu mais um olhar em minha direção. Dessa vez não era de hostilidade, mas de esperança. Luana olhava pra mim como se eu fosse o único que pudesse salvar a dignidade daquele colégio, o único que pudesse agradá-la naquele momento. O único homem na face da Terra que podia deixá-la feliz, mesmo que fosse se fazendo de babaca.
Algumas horas depois, um rapaz amarrado com fita adesiva foi encontrado dentro de uma sala de aula no terceiro andar do colégio. Ele estava meio fraco e semi-inconsciente, então tudo o que pôde perceber foram vozes. Algumas preocupadas, outras com um tom de diversão, mas todas perguntando se o rapaz era idiota.
Curiosamente, ele perguntava a si próprio a mesma coisa.
P.S: A primeira frase foi tirada de (500) dias com ela, seus incultos.
MUITO FIRME VELHO, RI MUUUUUUUUUUITO o/
ResponderExcluir"O único homem na face da Terra que podia deixá-la feliz, mesmo que fosse se fazendo de babaca."
ResponderExcluirParabéns xD~
"SeJa SeMpRe 100NoÇãO!"