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Só mais uma garota ruiva, bissexual, geek, gostosa e carente que quer um amor na vida. Mentira, isso é só pra atrair leitores.

28.3.11

Gasoline

Sabe-se que nada é perfeito. Tudo o que é material - objetos, plantas, protozoários, atendentes de telemarketing - possui defeitos incorrigíveis e está fadado a ser imperfeito pelo resto de sua existência. E aparentemente os objetos, plantas, protozoários, atendentes de telemarketing e todos os seres vivos no geral aceitavam suas falhas e conviviam muito bem com isso. Ou pelo menos até a chegada dos humanos.

Denominados por eles mesmos como a espécie mais inteligente do Universo - o que entra em contra-senso com o Órgão Galáctico de Nivelação, Avaliação e Resolução de Babaquices em Geral; segundo eles, uma espécie que ordenha e cozinha vacas não pode ser considerada inteligente, uma vez que o críquete bovino é uma atividade muito mais divertida e produtiva para a sociedade em geral - os humanos não são capazes de se contentar com o que são, o que os leva a uma busca cega e interminável pela perfeição. Durante todo o seu tempo e utilizando todos os meios imagináveis eles tentam, inutilmente, alcançar o patamar mais alto de todas as criaturas do Universo: o de um deus.

Obviamente é impossível para qualquer criatura viva virar um deus, já que nem mesmo os maiores especialistas de metafísica existentes nesta dimensão conseguem comprovar, de fato, a existência de tais entidades. E bem no fundo os humanos também sabem disso. Mas sua crença (leia crença como um eufemismo para babaquice) é tão grande em relação aos seres divinos, e sua vontade é tão grande de ser um deles, que a grande maioria opta por fingir ser alguém perfeito e sem problemas, somente para os outros de sua espécie o admirarem secretamente enquanto fingem não estar nem aí porque estão fingindo que também são perfeitos, fazendo os outros os admirarem secretamente enquanto fingem não estar nem aí porque estão fingindo que também são perfeitos, fazendo os outros os admirarem secretamente enquanto fingem não estar nem aí porque estão fingindo que também são perfeitos, fazendo com que no final todo mundo saiba que ninguém presta nessa porcaria de sociedade.

E é aí que o indivíduo perde totalmente o controle. Sabendo que ele e toda sua espécie provavelmente não poderão ser deuses, ele escolhe uma pessoa aleatória que viu uma vez na TV, no trabalho ou no colégio para adorá-la, amá-la, endeusá-la. Normalmente essa pessoa é extremamente bonita, do sexo oposto do indivíduo e ele nunca, absolutamente NUNCA, terá uma chance pelo menos de conviver com ela. Aí o cara pega e chama essa pessoa aleatória de "meu amor platônico".

O objetivo de ter um amor platônico é simples. Como você sabe que sempre saberá que sabe que sempre soube que nunca saberá ser um indivíduo perfeito, então escolhe uma outra pessoa qualquer para ser perfeita por você. A idéia de ser uma pessoa inatingível, por sua vez, serve para você nunca saber os defeitos dessa pessoa. Olhando-a de longe ela sempre parecerá linda, angelical, maravilhosa, com pó de pirlimpimpim ao redor dela. Desse jeito você nunca saberá que na verdade sabe que ela também não passa de uma humana qualquer. Isso acaba servindo como uma espécie de viga-mestra da vida do indivíduo, dando forças para ele seguir em frente acreditando que nem todos têm um lado sujo e defeituoso dentro de si.

Observam-se, então, dois fatos importantes:

1- Atendentes de telemarketing não são humanos;

2- Amores platônicos não foram feitos para serem correspondidos.

E o jovem sabia disso. Nesse momento, suou frio. Repassando os momentos por sua cabeça em uma velocidade absurda, ele ia perdendo aos poucos a força, sem saber se ficava incrivelmente feliz ou terrivelmente horrorizado.

Sentou. Respirou. Levantou a cabeça. E foi embora.

24.2.11

Kings Horses

É de conhecimento de todos que uma ínfima parcela das pessoas que vivem na parte ocidental do planeta se desvia dos caminhos da sociedade capitalista norte-americana e passa a gostar da cultura japonesa. Uma parcela um pouco menor não curte tanto a cultura em si, mas gosta bastante dos animes. Outra parcela menor ainda ultrapassa os limites de só gostar de animes, e passa a adorá-los, amá-los, viver como se fosse um deles. São os chamados Otakus.

Um dia, um otaku conheceu outro na internet. Os dois, por pura obra do acaso, acabaram encontrando outro de sua espécie no Omegle. Estes conheceram por via de um fórum de hentai mais um otaku que coincidentemente era promoter de eventos, e daí surgiu a idéia da criação dos eventos de anime.

Os Quatro Grandes Otakus, como são chamados pelo submundo da internet, começaram a se reunir e fazer vários planejamentos de como seriam os eventos de anime, como poderiam investir neles, quais os melhores atrativos para pessoas, etc. Cerca de 4 anos depois surge o primeiro evento de anime do mundo, o "Eventão", que foi um completo fracasso. Mais tarde, depois do suicídio coletivo dos Quatro Grandes Otakus influenciados por um mangá qualquer, um economista resolveu comentar sobre o evento. Segundo ele, "o evento foi uma bosta pq eles gastaram muita grana com estriper ne ai subiu o preço do evento e eles se fuderao rs".

Mas os eventos de anime, não pararam por aí. Influenciados pelos Quatro Grandes Otakus, pessoas do mundo todo começaram a fazer eventos. Sem strippers, os preços ficaram acessíveis, tornando a atração bastante popular pelo planeta. No ano de 2005, já existiam eventos de anime até mesmo nos lugares mais profundos da Amazônia.


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-Então, o que vais fazer pra conquistar a Luana?
-Olha, não sei não, Clara. Tá bem difícil, a gente perdeu o pouco contato que tinha.
-Ué, então faz alguma coisa.
-Tipo o quê? Tô meio sem idéias aqui, não sei se percebeu.
-Tá. Então, vai ter esse evento de anime fim de semana que vem lá no colégio asuhdaer na rua jnv dikg. Ela vai estar lá, deve gostar de te ver.
-Ah, ok. Mas como chego lá?
-Se vira, ué
-LOL

Fato 05: Luana era otaku. Do tipo que fazia cosplay e tudo.

Sempre fui acostumado a andar pelos arredores de casa. Sabia por onde andar, por onde não andar, onde comprar revistas pornôs mesmo sendo menor de idade, tudo. Ninguém conhecia tão bem as ruas num raio de cinco quarteirões partindo da minha casa como eu. O mundo fora deste raio, porém, era totalmente desconhecido por mim. Um passo para fora e havia a possibilidade de eu me perder pra sempre, tipo n'O Mundo Perdido.


O Mundo Perdido, praticamente um Friends na Amazônia.

A rua jnv dikg localizava-se bem no centro dessa selva de pedra desconhecida. Tentei pensar em várias formas de chegar até lá, mas a grande maioria delas envolvia jetpacks e visores com nightvision, que eram muito caros e tornaram os planos inviáveis. Tive então que procurar ajuda de um guia profissional.

-Mãe, cê me deixa lá no colégio aisuhdaer? Vai ter um evento lá.

E lá estava eu. Triunfante, desci do carro. Amarrei o cadarço da sorte, passei pelo corredor principal, dei 10 reais pro cara da portaria, reclamei do preço e entrei. Olhei para os lados procurando pela Luana, o que não foi muito difícil de achar.

Fato 06: Luana era praticamente a Xuxa dos otakus. Seriously.

Ao olhar para o lado, percebi um pequeno tumulto se formando. Fui tentar ver o que era, e percebi uma japonesinha bonitinha vestida de Tifa, com um monte de marmanjos virgens querendo tirar fotos com ela só pra passar a mão "sem querer" pela sua bunda e nunca mais lavá-la. Era a Luana. Observei-a por algum tempo, até que ela percebeu minha presença. E num gesto desesperado, disse:

-Nohan! Ainda bem que você chegou! - Um abraço rápido, e segurou minha mão. - Vem comigo.

Corremos por praticamente toda a extensão do colégio, até chegarmos no ginásio, onde não havia muito tumulto. Na verdade, não havia praticamente ninguém lá.

-Ai, Nohan, desculpa ter te puxado assim. Aqueles caras tavam me enchendo o saco, tive que fazer alguma coisa e só vi você na hora, então...
-Não, tudo bem. Quem eram aqueles eles?
-Sei lá. Por algum motivo esses caras que vêm pra evento gostam de mim. Vai entender.
-É... Não consigo imaginar o porquê disso, né? Haha - E dei um sorriso falso de quem tava tentando disfarçar. Por sorte, ela não percebeu.
-É. Se você não aparece eu ficaria a tarde inteira lá. E ainda tenho que treinar a minha coreografia pro concurso cosplay.
-Ah... falando nisso, você tá de Tifa né? Ficou muito bom, mesmo.
-Obrigada. - E deu um sorriso desconcertante, que só ela sabia dar. - Então, você pode me ajudar com a minha coreografia? Quer dizer, se você não estiver fazendo nada, né. Se quiser pode ir lá pra se divertir, eu treino sozinha.
-Não, tudo bem. Não tô fazendo muita coisa mesmo.

Passamos uma boa parte da tarde ensaiando a coreografia. Eu não poderia me sentir mais feliz. Estava finalmente passando meu tempo a sós com a Luana. E ela parecia estar se divertindo também. Era como se nada tivesse acontecido antes. Como se ninguém mais existisse. Somente nós dois envoltos em um mundo somente nosso, com mais nada a se preocupar. Procurava guardar aquele momento para sempre. Observava cada pingo de suor que caía, sentia cada chute leve no braço que era dado em mim. Estava...

-LUANAAAAAAAAAA

Clara, sua vadia.

-Ah, Clara! A coreografia já tá quase pronta.
-Tá, depois você termina. Agora a gente tem que ir na sala de exibição, vai passar o OVA do Fullmetal.
-SÉRIO? Vamos logo, então. - Ela se virou pra mim por um instante, e depois voltou para a Clara. - Hã... Vai indo na frente, ok? Eu já te alcanço.
-Ah... ok então. - E foi embora.

Eu não estava preparado pra isso. Imaginei que ela fosse embora imediatamente com a Clara, me deixando sozinho como sempre. O fato de ela ter deixado sua melhor amiga ir na frente e estar agora caminhando na minha direção com um olhar gentil me deixou totalmente sem ação. Me limitei a somente observar e ver o que acontecia.

Luana parou logo a minha frente. Me observou por alguns segundos até olhar em meus olhos e dizer:

-Obrigada por tudo hoje. A gente nunca se falou tanto, mas mesmo assim você me ajudou a tarde inteira hoje, sendo que você poderia estar se divertindo e tudo o mais. Obrigada mesmo, de verdade.

E então me abraçou. Um abraço longo e firme. Pude sentir o calor do seu corpo, sua respiração ofegante devido ao treino, seu coração pulsando sobre o meu. Sem dizer uma palavra de volta, a abracei também. Não queria soltá-la nunca mais, queria ficar daquele jeito pra sempre. Infelizmente, o pra sempre durou somente cerca de 20 segundos. Ela soltou o abraço, e me senti obrigado a fazer o mesmo. Ela se afastou uns dois passos, levantou o rosto e mostrou novamente aquele sorriso.

-Então, eu tenho que ir agora. Até mais, vê se não perde minha apresentação, heim? - E saiu correndo atrás da Clara.

Nesse momento, a ficha começou a cair. Todos os momentos começaram a me passar pela cabeça. Desde o momento em que ela escolheu a mim, e ninguém mais, para puxar e sair correndo dos caras, até a hora em que ela mandou a Clara ir na frente pra falar comigo. E cada vez que eu passava isso pela minha cabeça, ia ficando mais boquiaberto e feliz.

Fato 07: Luana estava apaixonada por um cara chamado Nohan.

29.1.11

Extra 01: Sweet Disposition

"Esta não é uma história de amor. É uma história sobre amor."



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A Feira de Ciências do colégio Olimpus no ano de 2005 foi um evento fascinante. Não por causa dos seus esforçados alunos que fizeram pesquisas durante meses só para poder apresentar algo decente a quem fosse assistí-los. Não, aquilo era muito chato, credo. A atração principal do dia, por sua vez, foi um aluno. A única pessoa naquela convenção repleta de teorias científicas e explicações racionais que agia instintivamente, irracionalmente. Agia por amor. E, vejam só que surpresa, esse alguém era eu.



A idéia dos coordenadores para a Feira de Ciências era simples: Dividir cada grupo em dois subgrupos, cada um se apresentando durante metade do tempo de exposição. Assim, todos teriam tempo para visitar as outras barraquinhas, ouvir atentamente ao que eles dizem e absorver mais um pouco de cultura. Todo mundo sabia que era porque não tinha espaço suficiente pra agrupar todos de uma vez só, mas vamos dizer que seja isso. O fato é que eu e as pessoas do meu subgrupo já tínhamos terminado nosso turno, o que nos deixava absolutamente livres para fazer o que quiser. Saímos de nossa barraquinha extremamente felizes, até nos lembrarmos de algo.

Era tudo EXTREMAMENTE entendiante.

Nesse contexto, éramos quatro pessoas.

-Nohan: Um rapaz jovem, meio nerd e apaixonado que coincidentemente é o protagonista desta história, e mais coincidentemente ainda sou eu.

-Luana: A garota por quem eu estava apaixonado. Descendente de japoneses e cheia de fatos curiosos (que ainda não terminaram de ser apresentados, fiquem ligadinhos), usava um laço na cabeça extremamente bonitinho no dia. Fato curioso: ela provavelmente me achava um babaca.

-Clara: Melhor amiga de Luana, mais grudada nela do que chiclete em sapato caro. Até então, eu a achava uma vadia cuja principal fonte de prazer era atrapalhar minha vida.

-Marcos: Meu melhor amigo e companheiro de aventuras da época. Na verdade ele é irrelevante nesta história, ao contrário do pastel de queijo que ele me pagou. Aparecerá de novo posteriormente, com papéis mais importantes.

E lá estávamos nós, entediados. Luana e Clara conversando, Marcos fazendo nada e eu comendo pastel. Bem, na verdade comer pastel era somente um disfarce. O que eu tramava secretamente na minha mente era um plano para me reconciliar com a Luana. Lá estava ela, a duas pessoas de distância, e eu sequer tinha uma frase legal pra começar uma conversa. Obviamente, a idéia de que eu estava comendo um delicioso pastel de queijo e que poderia oferecê-lo para ela não me veio a cabeça. Mas veio na cabeça dela, então deu no mesmo.

-Nohan?

-AICARALHO oi?

-Me dá um pedaço? Tô meio com fome.

Depois de eu a dar instintivamente todo o resto do meu pastel, parece que conversar ficou mais fácil. A parte mais difícil tinha sido dar o primeiro passo e dizer algo (passo que não foi dado por mim, mas na minha cabeça era a mesma coisa). Logo estávamos nós quatro conversando alegremente, e eu me saindo bem na missão de não parecer um completo idiota. Minha amada, então, disse uma das coisas mais impressionantemente loucas que já saíram de sua linda boca.

Fato 04: Luana tinha uma mente absurdamente fértil, beirando a insanidade.

Não lembro sobre o que conversávamos na hora, mas a idéia de amarrar alguém com fita adesiva com certeza não fazia parte do tópico principal. Naturalmente, então, todos pararam imediatamente de conversar uns com os outros e passaram a observá-la, levemente assustados.

-É sério! Essa Feira tá chata demais, precisa de alguma coisa pra animar o lugar LOL

A idéia de finalmente haver uma Feira Cultural com uma certa agitação era de fato tentadora. Todos os alunos daquele colégio estavam cheios de ter que apresentar seus trabalhos todos os anos lutando contra o sono e a vontade de bater nos seus espectadores que não paravam de fazer perguntas, fingindo estar interessados. Poderíamos ser heróis! Nos tornaríamos aqueles que salvaram a Feira de Ciências de 2005! Logo a idéia tornou-se um objetivo a ser cumprido a qualquer custo. Era só encontrar alguém babaca o suficiente pra aceitar ser amarrado em fita adesiva durante um tempo indeterminado.

-Que tal o Cláudio?

-Não, acho que ele não vai querer.

-A Ramona?

-Não.

-O diretor?

-Ninguém quer ser expulso aqui, então não.

-Então que tal... - e senti um olhar extremamente hostil na minha direção, com um sentimento quase fatal.

-Então, Nohan, será que você faz isso pela gente?

Era a Clara, a safada. Dava pra sentir aquela intenção maliciosa e o veneno saindo pela boca dela. Eu estava prestes a começar a protestar, mas no momento surgiu mais um olhar em minha direção. Dessa vez não era de hostilidade, mas de esperança. Luana olhava pra mim como se eu fosse o único que pudesse salvar a dignidade daquele colégio, o único que pudesse agradá-la naquele momento. O único homem na face da Terra que podia deixá-la feliz, mesmo que fosse se fazendo de babaca.

Algumas horas depois, um rapaz amarrado com fita adesiva foi encontrado dentro de uma sala de aula no terceiro andar do colégio. Ele estava meio fraco e semi-inconsciente, então tudo o que pôde perceber foram vozes. Algumas preocupadas, outras com um tom de diversão, mas todas perguntando se o rapaz era idiota.

Curiosamente, ele perguntava a si próprio a mesma coisa.







P.S: A primeira frase foi tirada de (500) dias com ela, seus incultos.

17.1.11

Anything

Stalker: Palavra derivada de stalk, uma expressão em inglês que significa perseguir, espreitar. Stalkers, portanto, são pessoas que perseguem algo ou alguém com incrível competência, sem nunca serem notados. Eles podem ser divididos em dois grupos:


1- O stalker clássico

É o tipo de stalker predominante desde e Era Medieval. Ágil e inteligente, ele treina seu corpo e mente desde pequeno com o único objetivo de nunca ser notado. Escondido em dutos de ventilação, dentro de barris de merda ou simplesmente no meio da multidão, este tipo de stalker consegue chegar perto de sua fonte de informação sem absolutamente ninguém sequer imaginar sua presença no recinto. É conhecido também como "O Homem Invisível".


2- O stalker moderno

Desde o advento da tecnologia moderna, esse tipo de stalker vem crescendo em proporções extraordinárias. Cresceram tanto que alguns tornaram-se espantosamente hábeis no que fazem, e fizeram do stalkeamento o seu ganha-pão. Hoje, várias empresas contratam stalkers para usarem todo o seu conhecimento tecnológico a fim de descobrir segredos sobre seus rivais, seus próprios aliados, das suas secretárias e até mesmo da galera que joga bola com eles. São os chamados "Camaleões Eletrônicos".

Outros não têm necessidades de tanta magnitude, e aprendem somente as técnicas básicas de stalkeamento com o material de que eles dispõem. Tendo como armas principais o Google e suas contas fake nos principais sites de relacionamento, este tipo de stalker é mais conhecido como "O Filho da Puta".


De qualquer maneira, ter habilidades de stalker abre muitas portas na vida de uma pessoa. Você pode descobrir segredos das pessoas que gostam de você, descobrir segredos das pessoas que NÃO gostam de você, descobrir os segredos do seu futuro chefe para suborná-lo na hora da entrevista de emprego, descobrir segredos ultra-secretos do governo americano, entre várias outras. Mas a mais importante de todas, na minha humilde opinião, é poder saber tudo sobre a pessoa que você gosta. E é nesse quesito que eu me encaixo.



Até o presente momento, eu nunca tinha sido capaz de obter muitas informações sobre a Luana. Primeiro porque eu não tinha nenhum tipo de contato com ela. Exceto visual, mas isso durava menos de um segundo; no momento em que ela dirigia o olhar para mim eu virava o olho e fingia que estava fazendo outra coisa coisa que não fosse observá-la por horas. Segundo porque eu ainda não tinha muito conhecimento sobre internet, sites de relacionamento e coisas desse tipo. Na época, meu conhecimento sobre computadores se resumia aos comandos de Counter-Strike, e só. Mas quando a porta daquela sala de aula se abriu, tudo mudou. Era como se o destino estivesse me dizendo "estou fazendo minha parte, seu filho da puta. Agora vê se faz a tua". Todas as portas do mundo estavam abertas para mim, e eu estava livre para fuçar a vida dela até dizer chega. Pelo menos em teoria.


O plano era bem simples: Pesquisar sobre a vida da Luana, descobrir fatos sobre ela, perceber o que temos em comum e então começar uma conexão baseada nisso. O primeiro fato foi bem fácil de descobrir, estava estampado no peito dela.


Fato 01: Luana gostava de Samurai X.


-Ô Luana, esse seu cordão é de Samurai X, né?

-Ué, é sim. Por quê?

-PUTZ SÉRIO NUM ACREDITO EU ADORO SAMURAI X KKK BLABLABLABLA- E fiquei falando sozinho de Samurai X por mais uns 10 minutos.


Fato 02: Luana não gostava de retardados.


Depois de perceber que eu estava falando com a parede e que a Luana tinha ido comer pastel com uma amiga, me toquei da merda que tinha acabado de fazer. Obviamente, ela me achava um total idiota agora. Alguém que não tem mais nada na cabeça além de jogos de videogame e jutsus de Naruto. Fui então pra um canto da sala, sentei numa carteira qualquer, olhei fixamente pro teto e comecei a ter um dos meus momentos de profunda reflexão.


Certo, Nohan. Você acabou de mostrar o seu lado mais retardado pra pessoa que você mais gosta na vida. Ok, isso ia acontecer hora ou outra. Mas PORRA, tinha que ser agora?

Não, não, calma. Pensa. A situação não deve estar tão ruim como você pensa, não é? Ainda restam as reuniões do grupo e, querendo ou não, ela vai ter que falar contigo. E quando isso acontecer, quero que você esteja preparado psicologicamente pra não fazer merda de novo, e dessa vez mostrar o seu lado mais gentil, carinhoso e amável. É. Funciona no The Sims, acho que vai dar certo na vida real. Tem que dar certo.


Não deu certo. Em todas as reuniões do nosso grupo do trabalho, ela pareceu me evitar o máximo que pode. Falava comigo somente o essencial e depois fingia estar ocupada com alguma coisa como observar pombos copulando, ou algo do tipo. Além disso, a Clara estava sempre do lado dela, o que tornava meio impossível a possibilidade de eu termos uma conversa a sós.


Ah, é mesmo. A Clara.


Fato 03: Luana tinha uma amiga inseparável, a Clara.


E quando eu digo inseparável, falo de verdade. Clara era o tipo de amiga que nunca desgrudava. A Luana ia comprar pão, lá estava ela. A Luana ia fazer as sombrancelhas, lá estava ela. A Luana entrou pra um grupo na Feira de Ciências que vai visitar os principais lixões da cidade e pegar umas doenças com o objetivo de apresentar um trabalho pra um monte de gente que só finge que está prestando atenção, e lá está a vagabunda. Por todo o tempo que duraram as reuniões, eu odiei essa garota. Mas, mais uma vez, o acaso agiu sobre a minha vida.



A Feira de Ciências já havia terminado a cerca de duas semanas. Todos apresentaram seus trabalhos, ganharam 3 pontos de graça, e cada um foi pro seu lado. Como a Luana estudava em uma outra unidade do meu colégio e eu só ia lá uma ou duas vezes na semana por causa das aulas de educação física, ficava meio estranho tentar conversar com ela novamente. Então, mais uma vez, passei a ficar somente observando-a de longe, admirando-a, imaginando e me matando por dentro por ter feito aquela besteira. E eu estava andando pela rua perturbando minha mente com esses pensamentos depressivos, quando uma voz surgiu atrás de mim.


-Nohan? Oi!


Era a Clara. De todas as pessoas do Universo, encontro na rua a que eu menos desejava ver. E ela nem tava com a Luana do lado dela, essa safada. Mas como o ser humano tende a ser falso em situações como essas e fingir que está feliz por ver a pessoa, esbanjei um sorriso e respondi.


-Ah, oi Clara! E aí, tudo bem?

-Ótimo! E contigo?

-Não. Não tô bem, não.


Até hoje não sei o motivo de eu ter respondido isso. Talvez porque eu odiava a garota e queria que ela soubesse o quanto ela atrapalhou a minha vida, ou simplemente porque eu precisava muito me abrir pra alguém, mas todos os meus amigos eram retardados da minha idade cuja principal diversão era abaixar as calças e pegar no pinto um do outro. O fato é que passei mais de 15 minutos falando da minha situação, com ela ouvindo atentamente. Quando eu finalmente terminei de falar e estava pronto pra ouvir alguém chorando de rir na minha frente, ouvi algo um tanto inesperado de uma pessoa que você odeia:


-Ué, por que não falou comigo antes, então? Eu te ajudo.


Sabe aquelas coisas de desenho animado, onde o queixo do cara cai no chão e a língua sai rolando até o outro lado da rua? Se fosse fisicamente possível, isso teria acontecido comigo naquela hora.